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sábado, 27 de janeiro de 2018

Lutar Contra...? Crítica ao revisionismo do PCC-ML/EPL

Guerrilheiros do EPL, da Colômbia em meados dos anos 70

Trecho extraído do artigo “Colômbia: A estratégia da guerra popular”, de autoria do Grupo Comunista Revolucionário da Colômbia. O artigo completo foi publicado em inglês pela revista do Movimento Revolucionário Internacionalista “A World To Win” em 1988.
Extraímos este trecho pois reúne um pouco da história, e crítica ao PCCML, expondo alguns pontos que deram origem ao revisionismo hoxhaísta que assumiu a total direção deste partido a partir de 1980, colocando fim em ao processo de guerra popular que vinha sendo conduzido na Colômbia desde 1968, o que se consumou de fato com os acordos de paz assinados em 1984.
O PCCML que existe atualmente é uma dissidência que surgiu algum tempo após a capitulação. Retomaram a luta armada e o braço armado Exército Popular de Libertação com um número pequeno de combatentes, porém, em nada lembram o PCCML pré-1980, ao contrário, se assemelham muito com as FARC e ELN, tanto na prática do foco armado, quanto no discurso de buscar “solução política para a luta armada”. 

Lutar contra...?

O caminho colocado adiante para a revolução pelos revisionistas do Partido Comunista da Colômbia (Marxista-Leninista), o PCC(ML), é também o caminho insurrecional, a essência da presente linha do partido teve suas origens no II Congresso do Partido em 1980 quando o partido foi “reestruturado” na base do hoxhaísmo. Naquela época, eles usaram o pretexto de repudiar seus “desvios maoístas” anteriores, repudiar o Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsé-tung e o conceito de guerra popular.

Prontamente, em seu I Congresso de Fundação em 1965, -o PCC (ML) considerado em si uma continuação do antigo PC e anterior ao nono congresso- O PCC(ML) sustentava desde então que a Colômbia é “um país predominantemente capitalista com remanescentes feudais, a revolução não poderia ser democrático-burguesa (de novo tipo) ou de Nova Democracia, mas ao invés disso “patriótico-popular-anti-imperialista”, isto é, popular mas não democrática. Na realidade, eles chamavam para uma revolução semisocialista. Eles se referiam à “revolução continental”, negando as várias revoluções nacionais; negavam a existência de uma burguesia nacional. Eles sustentavam que as condições para a revolução são criadas pelas guerrilhas em si, atuando como um “foco insurrecional”. O PCC(ML) não foi fundado no I Congresso baseando-se na direção do Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsé-tung, ao contrário, pelas teses guevaristas e trotskistas.

Todavia, o Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsé-tung pode exercer alguma influência, embora somente no senso da errônea ideia que alguns podiam aceitar certos aspectos da teoria militar desenvolvida por Mao Tsé-tung.

O PCC(ML) impulsionou-se pelas águas ecléticas de 1965 a 1976, quando definitivamente se dividiu à parte. Estas concepções do partido, a frente e o exército revolucionário eram erradas. O Exército Popular de Libertação (EPL) era o “braço armado” do partido, e a frente – que era chamada de “Frente Patriótica de Libertação Nacional” era realmente uma forma de frentismo tradicional da América Latina. Na realidade, o PCC(ML) nunca tomou a revolução de Nova Democracia. A fragmentação produzida pela decomposição política e ideológica através daqueles que abandonaram o Marxsimo-Leninismo-Maoísmo e conduziram por baixo uma das frações para “reconstruírem-se” na imagem do hoxhaísmo em 1980, desde então o revisionismo da organização que se autoproclama atualmente como PCC(ML), teve suas próprias raízes distintas.

A análise dos revisionistas do PCC(ML) deste período é a seguinte: “Em 1965 o pessoas começaram a se infiltrar no nordeste para trabalhar e criar condições para os levantes. Logicamente, os erros foquistas foram corrigidos no curso desse trabalho, mas havia permanecido a influência negativa da teoria de guerra popular de Mao Tsé-tung .”

Esta “influência negativa” da teoria e estratégia da guerra popular – de acordo com os hoxhaístas – era um verdadeiro primitivismo na direção da luta armada. Foi positiva no senso de levantar a questão da guerra popular, mas continua de primeira, o PCC(ML) não foi consistente na autocritica que fez do seu foquismo e não rompeu na teoria e nem na prática com esta concepção revisionista.
Por um longo tempo o PCC(ML) promoveu Mao Tsé-tung e a Grande Revolução Cultural Proletária mas não estava fazendo isto sozinho; muitas outras organizações e círculos definiram-se como defensores do Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsé-tung. Ainda levando este aspecto positivo em consideração, o que realmente tomou lugar no “movimento maoísta” na Colômbia nos anos 60 foi uma corrente revisionista expressa em duas formas diferentes. Primeiro, havia a aproximação foquista para a luta armada, representada pelo PCC(ML). A coisa positiva que havia era que defendiam a importância da luta armada para fazer a revolução, e sustentavam que não havia outro caminho; o lado negativo era que não havia entendimento da diferença entre luta armada e guerra popular, que a guerra popular não era apenas guerra de guerrilha, entretanto guerra de guerrilha é fundamental, e não havia preparação ideológica, política, e organizacional para conduzir a guerra popular. O EPL não surgiu como resultado de trabalho planejado, mas ao contrário, por causa da “necessidade do momento”, para defender algo. As experiências de outras frações que surgiram fora do velho PCC(ML) que conduziram luta armada, como o Destacamento Pedro Leon Arboleda (EPL), foram baseadas na combinação revisionista de Guevara e Marighela [um brasileiro que escreveu o Mini manual do Guerrilheiro Urbano nos anos 60 – AWTW] e não assumiram a linha militar do proletariado.

A outra principal tendência no “movimento maoísta” era a corrente revisionista que aceitava a guerra popular em palavras mas jamais a conduziu em realidade, e adiou o trabalho de preparar a guerra popular porque “as condições objetivas e subjetivas para a revolução não existiam.” Uma concepção errônea das pré-condições impediu a acumulação de forças através da luta armada. Considerando as condições objetivas, foi dito que primeiro era necessário vencer as amplas massas da nação através dos movimentos econômicos de massas. Isto estava ligado na critério que via a situação revolucionária como embora pudesse se desenvolver pelas linhas da revolução russa. Considerando as forças subjetivas, foi dito que era necessário construir o partido, desprendendo o partido de construir o exército e a frente. O exército foi dito ser a “aliança armada” do partido e a frente, de acordo com algumas organizações, era o pretexto para engajar-se no cretinismo parlamentar. Algumas organizações “ML”, por exemplo, conduziam a linha de “organizações político-militares.” Eles conduziam ações armadas sem realmente estarem em uma guerra, uma versão em pequena escala do foquismo. Estes desvios devem ser resolutamente corrigidos e combatidos para substitui-los corretamente com o conceito comunista revolucionário da guerra popular, na teoria e na prática da luta de classes, da ação revolucionária das massas...

Agora o PCC(ML) repudiou o Marxismo-Leninismo- Pensamento Mao Tsé-tung, a teoria de Nova Democracia, e a estratégia e teoria da guerra popular. Mas o que é proposto no lugar?

Em primeiro lugar, eles se definem como Marxista-leninistas planos. É possível definir alguém como “ML” sem reconhecer Mao Tsé-tung? Claro que não. Não é possível ser Marxista-Leninista sem reconhecer e defender as contribuições imortais de Mao Tsé-tung para a ciência da revolução, em todos os seus aspectos e não apenas considerando poucos pontos da teoria militar, sem reconhecer que a ciência da revolução é harmoniosa e integral como num todo chamado Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsé-tung.

A questão de se construir ou não sobre a base do Marxismo-Leninismo-Pensamento Mao Tsé-tung é ultimamente uma questão de estar ou não procurando uma revolução real. Este repúdio a Mao Tsé-tung o coração do revisionismo do PCC(ML), desde que linha política errônea se levantou num todo.
Segundamente, eles pregam a estratégia insurrecional e a revolução socialista. Mas o caminho insurrecional que eles arguem para uma combinação de caminho insurrecional, o “caminho de Outubro” que Lenin formulou para os países imperialistas, junto com uma forte dose de sandinismo. Em uma nação oprimida pelo imperialismo, a revolução vai através de dois estágios: a revolução de Nova Democracia, e a revolução socialista. Para combinar ecleticamente estes dois diferentes estágios em um não é uma demonstração de “pureza ideológica”, mas de um profundo desvio ideológico e análise errônea da sociedade colombiana. A revolução na Colômbia não pode ser uma revolução proletária-socialista porque os interesses das diferentes classes e camadas sociais opostas às classes reacionárias correspondem à democracia e não ao socialismo. O que a história demanda é varrer para longe a dominação do imperialismo, capitalismo burocrático e semifeudalismo, e varrer para longe estes inimigos não constitui socialismo mas sim democracia, isto é, Nova Democracia.
A revolução de Nova Democracia abole somente a propriedade privada dos imperialistas, grande burguesia, e grandes proprietários de terras. Mas os revisionistas trotskistas do PCC(ML) sustentam que o que deve ser abolido é toda propriedade privada, todo o capitalismo na Colômbia em geral, em “uma única passada de caneta”, apenas porque este é o desejo subjetivo de um punhado de pessoas, sem tomar em conta o fato que existem classes burguesas e camadas sociais que não fazem parte do alvo da revolução nacional-democrática. Quando os hoxhaístas do PCC(ML) arguem pela sua revolução socialista, o que significa é que eles não querem alguma revolução. O PCC(ML) diz que a Colômbia é um “país capitalista de monopólio estatal”, aceitando as visões pró-soviéticas nesta consideração. A raiz da questão não está numa discussão sobre se é ou não estado de capital monopolista, mas antes, em caracterizar o que este conceito significa para uma nação oprimida. A questão é, que tipo de capitalismo existe na Colômbia? O capitalismo monopólio de estado não é tipo de capitalismo encontrado em um país imperialista; não é o capital financeiro imperialista, mas antes, uma forma específica e particular chamada capitalismo burocrático. Para conduzir sua dominação, o imperialismo cria o capital burocrático. Mas desde que o PCC(ML) também distorce a distinção entre países imperialistas e países oprimidos pelo imperialismo, seu “capitalismo de monopólio estatal” é o mesmo que capital financeiro imperialista.

Isto é errado, para crer que na Colômbia há um “capital de monopólio estatal” remontando um capitalismo financeiro imperialista deve ser inevitavelmente guiado, na esfera da política, para a linha que incorretamente fala sobre a existência de “fascismo” definido como a ditadura da seção mais reacionária da burguesia, e esfera econômica para a conclusão que o imperialismo equaliza as corporações transnacionais, o FMI, o Banco Mundial, etc, e que constitui um “inimigo externo.” Um ecletismo estranho. Na Colômbia há não há burguesia financeiro nem capital financeiro; o que existe é uma burguesia burocrática que administra o capital financeiro do imperialismo sem ser proprietária daquele capital. Este “estado de monopólio capitalista” é cerradamente ligado com o capital imperialista, com os interesses dos compradores e com os interesses dos latifundiários. Na realidade, este “capital de monopólio estatal” é capitalista burocrático (comprador e feudal).

Desde que o PCC(ML) vê a Colômbia como um país capitalista, fica claro que estes pregam a revolução socialista, insurreição e guerra civil. Em ordem para conduzir este tipo de revolução, eles avançam uma Frente Popular, que é uma “frente tática”, no estilo da “estratégia insurrecional”; eles advogam a tão chamada “convergência democrática”, que é, uma aliança com seções da pequena burguesia, burguesia nacional e ainda forças de oposição a vindas das classes dominantes, com a visão de “reformas democráticas”, Em sua clara concepção revisionista, eles aguem que a frente e a “convergência” poderiam incluir personalidades burguesas opostas à “fascistização”. O PCC(ML) teve a particular ideia de contradição principal e os alvos da revolução.

Quando eles falam da “fascistização do estado,” eles dizem que os alvos a serem enfrentados são o militarismo e o fascismo; no estilo pró soviético eles clamam que existem “personalidades democráticas” entre as classes dominantes que não são “fascistas” e que se opõem ao “processo de fascistização”.

Na base disso ao clamarem sobre “fascismo” na Colômbia, concluem que há dois campos nesse país: os “fascistas e reacionários de um lado; e de outro a classe operária, as massas do povo, juntas com as forças democrático-revolucionárias.” (Suplemento para Liberación, órgão do EPL, 1987).

Esta é a contradição porque “este é precisamente o contexto onde o movimento guerrilheiro, onde nós somos uma parte que está chamando para a unidade do movimento democrático-revolucionário, então juntos isto aqui pode parecer um movimento de convergência democrática, fechando a porta para o processo de fascistização e militarismo e provendo uma solução política para a situação deste país.”
Este solução política proposta pelo PCC(ML) é um plano, um acordo negociado com as classes dominantes que dominam o reacionário estado burocrático-latifundiário. Uma solução que inclui uma reforma constitucional, um referendum, uma assembleia constituinte, em curtas, uma reforma no sistema de governo e órgãos reacionários do poder político. Para obter todas estas “maravilhas” eles chama para uma combinação de “todas as formas de luta”, com movimento político sendo principal e a luta guerrilha como auxiliar. Aqui temos seu sandinismo. A partir de um ponto de vista militar, eles chama para a construção de um exército regular, dando ênfase para a técnica, treinamento avançado em táticas e métodos, comandantes especializando-se em guerras móveis e posicionais, bem como a criação de milícias e guardas civis locais. A questão real não é treinamento “avançado” em táticas e métodos, “mas ao invés isto é ligado a uma linha militar revisionista que urge para confiar em armas, técnica e tecnologia como a principal coisa e não em confiar nas massas, e apesar deles confiarem para certos pontos, eles não as mobilizam nem elevam sua consciência política.

O programa da “Frente Popular” enfatiza plebiscitos, referendos, e assembleia nacional constituinte como “mecanismos para fazer possível as mudanças que este país necessita.” A luta anti-imperialista que eles chamam para designar em “autodeterminação dos povos”, pela defesa da “soberania nacional e recursos naturais.” A questão agrária que para eles é secundária, é reduzida à “uma reforma agrária democrática” na base da “expropriação pelo estado sem indenização.” Ultimamente, negociações e planos. Eles querem usar a luta contra o imperialismo para melhor negociar com ele e para negociar com os grandes proprietários de terras sobre a “expropriação” da terra em suas mãos. O PCC(ML) representa os interesses da pequena burguesia “radical”, e partir de um ponto de vista político basicamente tendente à para o pró-sovietismo.

Os interesses da burguesia, especialmente da burguesia nacional e da pequena burguesia, são expressos em linhas e programas que visam resolver os problemas de uma nação oprimida a partir do seu ponto de vista de classe. O tipo de sociedade que existe também propele diferentes forças sociais para participarem na revolução, incluindo na luta armada, mas eles o fazem com ideias limitadas e com pouca visão prezando o que deve ser um total, através, e completa pela revolução de Nova Democracia. Este é o caso com o PCC(ML).


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