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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Saudações aos Guerrilheiros do Araguaia


Publicado no jornal A Classe Operária, nº 73, abril-maio de 1973.

Saudações aos Guerrilheiros do Araguaia

Aos heróicos combatentes do Araguaia
Aos moradores da região guerrilheira do sul do Pará

Com alegria e entusiasmo enviamos-lhes nessas calorosas saudações pela passagem do primeiro aniversário da luta empreendida na selva amazônica contra as arbitrariedades e a prepotência dos militares que governam o país. Vocês tomaram das armas em 12 de abril do ano passado para repelir o ataque injustificado dos soldados da reação e defender os sagrados direitos do povo. Essa data ficará gravada para sempre na história dos movimentos de rebeldia popular no Brasil.

É memorável acontecimento. Vocês não se atemorizaram ante o assalto do inimigo. Embrenharam-se na mata e iniciaram o combate guerrilheiro que já dura doze meses. Suportando corajosamente a aspereza de uma vida difícil, mostraram que é possível resistir com êxito aos opressores. De fato, levaram a milhões de camponeses, irmãos de sofrimento e amargura, uma mensagem de confiança em si mesmos. Acenderam no coração dos brasileiros a chama da esperança, renovaram os sentimentos de justiça social, de liberdade e de independência da Pátria que amam os trabalhadores, os estudantes, a intelectualidade progressista. Empunhado as armas para se opor à violência reacionária, indicaram o verdadeiro caminho para libertar o Brasil da tirania, do atraso e da dominação estrangeira. A resistência armada do Araguaia iniciou uma nova fase do movimento democrático e patriótico.

Acostumados a impor sua vontade à ferro e fogo, os militares retrógrados tudo fizeram para esmagar as Forças Guerrilheiras do Araguaia. Considerando a resistência popular um desafio inadmissível, apelaram para os recursos mais criminosos. Foram impotentes, no entanto para liquidar os combatentes da selva e submeter os valentes moradores do interior paraense, apesar da imensa superioridade em homens e materiais que possuíam. Os generais, em pânico, proibiram a divulgação de qualquer notícia a respeito das guerrilhas. Não querem que os pobres do campo, os explorados e oprimidos de todo o país tomem conhecimento do que fizeram e fazem os habitantes de S. João e Conceição do Araguaia. Ao mesmo tempo, investem como feras contra os revolucionários das cidades. Assassinam covardemente centenas de patriotas que se opõem à ditadura.

Os comunistas nunca tiveram dúvida de que vocês seriam capazes de resistir com sucesso. Quem luta por uma causa justa encontra sempre incalculáveis reservas de energia, físicas e morais para prosseguir no combate. Os incrédulos pensavam que o gesto de rebeldia seria apenas simbólico. Os pusilânimes condenavam a ação conseqüente porque os atacantes eram poderosos. Nós estávamos convencidos de que a luta revolucionária no interior seria inevitável, os brasileiros não podem viver humilhados sob o tacão de generais fascistas nem assistir impassíveis ao saque das riquezas nacionais e à feroz espoliação imperialista de que o país é vítima. Seu descontentamento e ódio ao regime militar nunca foram tão grandes. Imenso é o desejo das massas das cidades e do campo de derrubar os opressores. Assim, é plenamente compreensível o surgimento e a sobrevivência, bem como o fortalecimento, da ação armada do sul do Pará.

Sabemos que o embate será árduo e prolongado. Para vencer, o povo precisa fazer intensos esforços, antes de mais nada, unir suas fileiras. A união é a chave da vitória. O Brasil é um grande país, onde se pode e se deve combater de diferentes formas. Desde as greves, as manifestações de rua, os atos de protesto nas escolas, a expulsão de grileiros e a defesa organizada da terra até os choques violentos no campo. No entanto, a luta armada terá que ser a forma principal. O exemplo dos combatentes do Araguaia vai chegando a toda a parte. E há de vir o dia em que, nos mais diferentes rincões do Brasil, outros núcleos guerrilheiros surgirão. Não há outro caminho para tornar realidade as aspirações do povo.

Os comunistas, que pugnam pela união dos patriotas para livrar o Brasil da ditadura, o mais infame e reacionário regime que o país já teve, reafirmam sua decisão de ajudar, por todos os meios, os bravos lutadores do sul do Pará. Cumprirão seu dever revolucionário sem temer as ameaças e arremetidas fascistas dos militares no poder.

Viva a gloriosa e heróica resistência dos moradores e das Forças Guerrilheiras do Araguaia!

Viva a União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo!

Rio de Janeiro, abril de 1973

O Comitê Central do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL

De Minas ao Araguaia



Forças Guerrilheiras do Araguaia, fonte de inspiração para os revolucionários brasileiros da atualidade.


Há mais de 40 anos atrás, o Partido Comunista do Brasil (Marxista-Leninista) foi responsável por um dos maiores atos de bravura mobilizados pelo povo. Estudantes, operários e camponeses pegaram em armas e iniciaram a guerra popular no Brasil. Este feito foi saudado com grande alegria pelas massas oprimidas do interior e por todos os patriotas e revolucionários da época. Este feito, ainda que tenha sido reprimido e escondido pelas forças retrógradas, continua a encher de orgulho e esperança todos aqueles que almejam a libertação do nosso país das garras do imperialismo e a destruição do imperialismo em todo o mundo. Há muitas histórias dos mais de 80 guerrilheiros que lutaram entre 1972 e 1975 na selva amazônica, que nos enche de entusiasmo para a luta e nos enfurece perante todas as manifestações de covardia. Certamente a tentativa de iniciar a guerra popular em 1972 é um marco na história revolucionária do país, que infelizmente é pouco destacada nos livros didáticos de história, pois, assim como o Levante de 1935, ambas as revoluções não visavam consolidar ou reformar a carcomida democracia burguesa, mas sim destruí-la e construir uma democracia popular, uma ditadura proletária. Tanto o levante de 1935 como a guerrilha de 1972 (que começou a ser preparada ainda em 1966), são provas históricas de que a era das revoluções democrático-burguesas acabou, fortalecendo a Nova Grande Onda da Revolução Proletária Mundial.

A ousadia destes guerreiros sempre será a nossa fonte de inspiração e serão contados os feitos de cada um quando a bandeira vermelha da República Popular e Democrática do Brasil for hasteada sobre as ruínas da velha república burocrático-burguesa.

Honra e glória ao comandante Osvaldão!

Osvaldo Orlando da Costa, comandante do destacamento B das Forças Guerrilheiras do Araguaia nasceu em Passa-Quatro no estado de Minas Gerais no dia 27 de abril de 1938.

Veio para São Paulo no início dos anos 50, onde fez o Curso Industrial Básico de Cerâmica, no qual se formou como artífice em cerâmica no ano de 1954. Ainda nos anos 50 foi para São Paulo, onde fez o curso técnico de construção de máquinas e motores pela Escola Técnica Federal, em 1958. Também se formou em engenharia de minas em Praga na Tchecoslováquia.

Osvaldão na Tchecoslováquia
Além de seu conhecimento na área industrial, o camarada Osvaldo também foi oficial da reserva pelo Centro Preparatório de Oficiais da Reserva no Rio de Janeiro, e foi campeão de boxe pelo Botafogo.
 
Com o uniforme do CPOR/RJ
Nos anos 50, participou ativamente das lutas estudantis e tornou-se militante do Partido Comunista do Brasil.

Como militante do Partido Comunista do Brasil, fez parte da primeira delegação enviada para a China a fim de receber o curso político-militar na escola de Shanghai em 1964. Outras delegações iriam para a China a fim de receber o curso político-militar até 1966.

Quando o Partido Comunista do Brasil em 1966, decidiu iniciar a preparação da guerra popular no Brasil, Osvaldão foi um dos primeiros militantes do PCdoB a ser enviado para a região do “Bico do Papagaio” (antiga divisa entre os estados do Pará, Maranhão e Goiás), região também conhecida por causa do rio Araguaia, que é um dos principais daquela região.

A missão de Osvaldão naquele tempo era a de reconhecer a área, mapeá-la, estabelecer vínculos com o povo e receber os militantes comunistas que estavam sendo enviados para aquela região. Não demorou muito para que Osvaldão (conhecido também como Mineirão) se tornasse amigo do povo, participando das caçadas, pescarias, e levando um modo de vida simples, trabalhando no garimpo e na roça.

Quando decidiu-se organizar os militantes do PCdoB em destacamentos no Araguaia, Osvaldão tornou-se comandante do destacamento B, um dos mais famosos destacamentos das Forças Guerrilheiras do Araguaia.

Nos primeiros meses do início da guerra popular, Osvaldão escreveu uma carta a seus amigos explicando o motivo pelo qual aderiu à luta armada. Com a ajuda dos quadros do Partido Comunista do Brasil, cópias da carta foram distribuídas na região, onde o povo pode compreender e apoiar a correta decisão tomada por aquele camarada.

No início dos anos 70, o comandante Osvaldão além de ser bastante conhecido pelo povo da região, era temido, e havia lendas em torno de sua pessoa, o pessoal que era supersticioso dizia que o “Mineirão” poderia se transformar em animal, árvore ou pedra, isso porque além da sua grande estatura (media 1,98m de altura e calçava 48) os militares fascistas por mais que tentassem nunca conseguiam capturá-lo.

Resistiu bravamente aos ataques dos militares fascistas, principalmente durante a segunda campanha, onde em 25 de dezembro de 1973 comandando o destacamento B, rompeu o cerco formado por um contingente muito maior que os guerrilheiros que ele comandava.

Resistiu bravamente aos militares fascistas e aos seus capangas, jamais dobraram sua ideologia. Morreu heroicamente em março de 1974. Seu corpo foi estraçalhado e ocultado pelos milicos fascistas, porém, jamais puderam fazer o mesmo com a sua ideologia ou com o seu exemplo de heroísmo.

Em um artigo escrito por Rui Moura, intitulado O pugilista vermelho, Rui Moura cita duas passagens onde Osvaldão mostra seu caráter revolucionário, em servir ao povo:
"Um grileiro foi ameaçar tirar a terra de Osvaldão e acordou, na sua casa, com o cano de um 38 cutucando seu rosto e a ordem, dada por ‘um negrão de quase dois metros de altura e com dois braços que pareciam duas pernas’, segundo descrição dos que o conheceram:
— Em vez de você ficar com minha terra, você dá a sua a uma família muito necessitada. A família já está aí, esperando. Vou lhe levar até a rodoviária e você não aparece mais aqui, senão morre. E se achar ruim morre agora que fica mais fácil...
O grileiro saiu com a surpresa de encontrar os novos proprietários e mais de 30 pessoas das redondezas que aplaudiam a atitude de seu Osvaldão, homem justo."
E outra:
"Estando de passagem em casa de uma família camponesa, encontrou a mulher desesperada porque não tinha dinheiro para comprar comida para seus filhos. Era uma casa pobre. Não tinham nada. Osvaldo perguntou-lhe se queria vender o cachorro. A mulher, sem outra alternativa, disse que sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam o que significava a perda do cão: mais fome, pois na região, sem cachorro e arma é difícil conseguir caça. Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para mim que eu não poderei levá-lo para casa agora."
Firmar-se em uma base sólida

Diziam que Osvaldão poderia se transformar em pedra. Ainda que isso seja apenas lenda de pessoas supersticiosas, o exemplo de heroísmo revolucionário de Osvaldão é sólido como rocha. E é sobre essa rocha que devemos nos firmar, isso significa, buscar uma vida simples, fazer amizades com gente das camadas baixas, com os operários e com os camponeses, ampliar o conhecimento (além dos cursos profissionalizantes, também se deve buscar estudar as obras dos cinco grandes mestres, e buscar aprimorar as habilidades físicas, através da prática de esportes, como tiro, corrida, boxe). Enfim, Osvaldão é o claro exemplo de como deve ser um militante comunista: buscar ampliar seus conhecimentos e habilidades, ser ousado, ser amigo das massas, buscar um modo de vida simples, de modo que quando venha a falecer, não seja apenas um cadáver descendo a sepultura, mas sim uma semente sendo plantada, que mais tarde gerará frutos que serão colhidos na SEARA VERMELHA, isso quer dizer, tornar-se exemplo a ser seguido pelas próximas gerações de revolucionários.

HONRA E GLÓRIA AOS GUERRILHEIROS DO ARAGUAIA!

VIVA A GUERRA POPULAR, INSTRUMENTO DE LIBERTAÇÃO DOS POVOS!

VINGAREMOS AOS GUERRILHEIROS!

RECONSTRUIR O PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL E REINICIAR A GUERRA POPULAR!