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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Kampuchea Democrática.



Pol Pot, 1977:
“O socialismo é uma sociedade igualitária, uma sociedade onde a felicidade, a justiça e a democracia autênticas existam, sem ricos ou pobres e sem exploradores e explorados, uma sociedade na qual todos vivam em harmonia, numa grande solidariedade e se unam na luta para a realização conjunta do trabalho braçal e para aumentar a produção, no sentido da construção e defesa do país.”

Frases a respeito de Pol Pot:

Tran Thanh Xuan, subdiretor da Agencia de Notícias do Vietnã, 1976:
"Pol Pot me pareceu muito encantador. Não só foi um excelente anfitrião como disse em sua primeira entrevista (a primeira que concedia em sua vida) que expressava a gratidão cambojana aos amigos e irmãos do Vietnã por seu apoio anterior, e disse que a amizade e a solidariedade entre eles era “tanto uma questão estratégica como um sentimento sagrado”.


Mea Son:
"Ele sempre foi um bom marido. Ele tentou fazer o seu melhor para educar os filhos a não serem traidores. Desde que casei com ele em 1985, eu nunca o vi fazer uma coisa má."


Nhen Em:
"Ele não era um homem ruim. Ele sempre tomou conta de seus camaradas. Sem ele,teríamos nos transformado em uma província norte-americana."
Quando é confrontado com perguntas sobre as várias sepulturas coletivas e os milhões de mortos, ele oferece uma versão alternativa para o que se passou. Nhem En alega que dois terços das vítimas morreram de desnutrição ou doenças: "Uma conseqüência da guerra que foi imposta sobre nós".

Nhem En quer criar um museu de Pol Pot. Ele vasculha uma caixa de metal cheia de fotos antigas e encontra o que procura: O "Irmão Número Um" em marcha pela selva; Pol Pot rodeado pelos seus comandantes, como se fosse um avô bonzinho.
Quando lhe perguntam como se sente a respeito do tribunal, ele responde: "Se o governo desejar me colocar perante o tribunal, irei com satisfação. Não tenho medo".



“Os capitalistas, ao longo da história, alimentarão ofensas sem fundamentos aos revolucionários comunistas. Mas quando a verdade vier, eles arderão em raiva e ódio dizendo: a verdade foi revelada"

Karl Marx





Em defesa da Kampuchea Democrática:

Bom, quando falamos em Camboja, poucos sabem sobre esse país, alguns apenas sabem que fica na Ásia, perto do Vietnã, Laos e Tailândia, outros, sabem que a sua capital é Phnom Penh. Mas, e quando falamos para alguns de Pol Pot? Boa parte das pessoas nunca ouviu falar em Pol Pot, mas, a maioria dos que já ouviram falar, o associam como um ditador tirano cujo partido se chamava Khmer Vermelho, que “governou” o Camboja entre 1975 e 1979, que forçou a todos os cambojanos que viviam na cidade, irem para o campo, e que matou 1/3 da população do Camboja, ou seja, 3 milhões de pessoas.



Há poucas citações sobre o Camboja e o Khmer Vermelho, as poucas que encontramos geralmente repetem as mesmas palavras ditas no parágrafo anterior, isso quando não encontramos por exemplo na internet, páginas com palavrões e ofensas a Pol Pot e ao Khmer Vermelho, mas não é em palavrões e ofensas pequeno-burguesas que devemos “pescar” as informações, aliás, seria mesmo verdade que durante o período do Khmer Vermelho houveram atrocidades cometidas?

O Camboja desde 1884 pertencia à França, ou seja, era uma colônia francesa que fazia parte da antiga Indochina, assim como o Laos e o Vietnã, estes povos sofriam humilhações das quais os franceses justificavam estar levando à civilização...
O Camboja era alvo de disputa também com a Tailândia, em 1939-40, a Tailândia entrou em guerra com a França, disputando o litoral do Camboja, como a Tailândia aderiu ao Eixo nos anos 40, os japoneses ocuparam a Indochina e cederam esse território que era pretendido pela Tailândia.

Em 1945, estoura a outra guerra, conhecida como a guerra da Indochina, onde Camboja, Laos e Vietnã saíram independentes em 1954, porém o Vietnã ficou dividido em dois: Vietnã do Norte que era socialista, e o Vietnã do Sul, que era capitalista.
A paz não durou muito tempo, no final dos anos 50 e início dos anos 60, foi feito um plebiscito para a unificação do Vietnã, mas, o lado sul não realizou a votação, então, o Vietnã do Norte os atacou, gerando assim a guerra do Vietnã, uma das mais sangrentas guerras da história.

O Camboja nos anos 60 tentou permanecer neutro na guerra do Vietnã, porém, a trilha da guerrilha vietnamita passava pelo território Cambojano, então, de 1965, a 1975, os norte-americanos despejaram mais de 500.000 toneladas de bombas em território cambojano, essa quantidade equivalia a 4 bombas de Hiroshima.
Em 1970, o príncipe do Camboja, Norodom Sihanouk, em uma viagem à Beijing, na China, foi deposto por um golpe de estado pelo general Lon Nol, que era a favor dos Estados Unidos, então, aí iniciou a entrada oficial do Camboja contra a guerrilha vietnamita, e contra a guerrilha do Khmer Vermelho, que lutava desde os anos 60.
Diferente da guerrilha do Laos, que era maoísta, porém administrada pelos vietnamitas, o Khmer Vermelho era maoísta, porém, independente do comando dos vietnamitas, isso gerou uma certa tensão entre os vietnamitas que queriam comandar o Khmer Vermelho, e com Pol Pot que queria manter o partido independente dos modelo dos vietnamitas. Em 1973, o Khmer Vermelho já ocupava boa parte do território cambojano. Em 17 de abril de 1975, as tropas do Khmer Vermelho entraram em Phnom Penh, encerrando assim, o governo fantoche do general Lon Nol, e iniciando um governo presidido pelo ex-príncipe Norodom Sihanouk, que foi substituído em 1976 por Khieu Samphan que comandou o Kampuchea Democrática até sua queda em 1979.
O campo ficava bem longe das zonas urbanas do Camboja, as estradas eram ruins ou danificadas pelo intenso bombardeio dos norte-americanos, e nessa época o país passava por uma crise alimentícia, pois como havia sido dito anteriormente, os campos foram devastados pela guerra, havia muita coisa a ser reconstruída.
Quando o Khmer vermelho entrou em Phnom Penh em 17 de abril de 1975, eles foram recebidos como heróis pelo povo cambojano, porém, as tiveram que deixar a zona urbana e se locomoverem até o campo para receberem alimento.

A partir daí as pessoas receberam roupas novas e ferramentas para que trabalhassem no campo, recebiam ensinamentos diários sobre o socialismo, e eram incentivados a chamar a todos os camaradas de “amigo”, a partir daí, começaria o “ano zero” no Camboja, mas aí você deve estar se perguntando, por que colocar os habitantes da zona rural para trabalharem no campo?
Nos anos 50, Khieu Samphan estava estudando economia e política na França, em 1959, na sua tese que lhe rendeu o doutorado, explicava que a economia do Camboja estava sendo prejudicada pela economia imperialista e que era necessário reiniciar, veja bem, a tese lhe rendeu o doutorado, essas teses foram aplicadas em 1973 nas áreas libertadas do Camboja, veja o que Norodom Sihanouk disse para o The New York Times em 1973:

“O Camboja será comunista, é um direito de se tornar comunista, porque a revolução que o Khmer Rouge fez nas áreas libertadas teve sucesso. Eu fiquei convencido disso, por ver com meus próprios olhos. Os Khmer Rouge são pessoas sérias. Eles sabem como edificar um país, e eles sabem fazer coisas que eu nunca teria sucesso. Nas áreas libertadas não lhes falta nada: nem carne ou vegetais, fruta, arroz ou vestimentas. Apesar da guerra, a produção de arroz dobrou. Quando eu era chefe de estado, produzíamos uma tonelada e meia por hectare. Agora são duas e meia. Ou três. Os produtos são bons e os preços são baixos... E quando vê tais resultados, uns devem admitir que aqueles que o obtiveram, tem o direito de governar o país. É completamente certo que eu devo congratular os comunistas cambojanos, e dizer-lhes: vocês são pessoas boas.”



Com a coletivização total do campo, infelizmente houveram problemas, muitos alguns morreram de fome, pois as exportações tiveram que ser encerradas, pois o objetivo do governo era tornar o país com uma economia independente. As escolas e hospitais nas zonas urbanas foram fechadas, sendo transferidos para o campo. Phnom Penh depois do esvaziamento ficou com mais ou menos 20.000 habitantes apenas, porém, nem todos precisaram ir para o campo, pessoas mais velhas poderiam continuar morando em suas antigas casas. O que se pode dizer de verdadeiro era que os opositores do regime eram sumariamente mortos, de acordo com uma entrevista realizada com Pol Pot em 1997, ele admitiu a morte de 14.000 pessoas por serem contra-revolucionários, 5000 morreram por erros da administração do governo, e 20.000 morreram na guerra contra o Vietnã em 1978-79, e por outros fatores, como doenças, porém, como havia pouca burocracia então, não restaram muitos documentos, e uma boa parte também foi destruída pelo Khmer Vermelho durante a invasão do Vietnã. Mas, os números que muitos vem na mídia, falam em 1,5 e meio, 2 milhões de mortos durante o regime do Khmer Vermelho, e agora surgiram 3 milhões, os números são muito confusos, pois variam entre 750.000 a 3 milhões, uma diferença muito grande, em qual devemos confiar? Como já foi dito, durante a guerra do Vietnã, foram despejadas mais de 500 mil toneladas de bombas, haviam invasões norte-americanas na fronteira com o Camboja, era muito comum os norte-americanos fazerem valas comuns para despejarem guerrilheiros e civis mortos, ou seja, pode ser que os ossos que estão em exposição nos museus do Camboja, não sejam somente de possíveis vítimas do Khmer Vermelho, mas sim, de vítimas da guerra do Vietnã.





A mídia fala sobre a morte sumária de médicos, professores, intelectuais, e até de pessoas que apenas soubessem ler, isso, é mentira, pois haviam escolas no campo, haviam médicos, pois alguém deveria ficar encarregado de dar aulas às crianças, e cuidar de pessoas que se machucavam trabalhando.

O que o Khmer Vermelho tentou fazer no Camboja, não foi a implantação do socialismo, mas sim, a do comunismo em pouquíssimo tempo, por isso, a necessidade de se reeducar as pessoas da cidade como camponeses. Em 1976, passada a crise de alimentos, as pessoas começaram a retornar para a cidade, a indústria cambojana foi reativada, na época, o Camboja contava com apenas 100 indústrias, o Camboja começou a exportar comida para a França, China e até Estados Unidos, pela primeira vez em 2000 anos, o Camboja estava economicamente independente.

Após a tomada do poder pelo Khmer Vermelho, começaram a ser firmadas boas relações entre China, Coréia do Norte, Laos. Com o Vietnã, tentou-se fazer uma aliança, porém os Khmers foram mal recebidos e o Vietnã não se manifestou à respeito da proposta, isso 3 anos depois traria sérias conseqüências.

A partir de 1977, começou a se formar uma tensão maior entre o Camboja e o Vietnã, pois, o Vietnã ainda queria manter um controle sobre o Camboja, assim como tinha certo controle sobre o Laos.

Como havia um racha causado por Kruschev com o seu anti-stalinismo, a URSS perdeu alguns aliados, como a China, e a Albânia, e arranjou certos problemas com Cuba e Romênia. O Kampuchea Democrática (Camboja) era apoiado pela China, e o Vietnã pela URSS, havia uma tensão entre as duas grandes potências socialistas, ou seja, China e URSS.

Em 1977, o Vietnã atribuiu uma invasão do Khmer Vermelho ao território sul do Vietnã, porém, numa entrevista feita com Pol Pot em 1979 ele disse que o Camboja não teria condições de fazer nenhuma invasão ao Vietnã, pois ele sabia que o Camboja é um país pequeno, com poucas armas e não teria chances, mas que não admitiria que o Vietnã se apossasse dos territórios cambojanos, disse que preferia morrer, do que entregar o Camboja para o Vietnã.

Em dezembro de 1978, aconteceu o pior: o Vietnã faz uma incursão contra o Camboja, alegando estar combatendo a brutalidade polpotista. No início de 1979, Phnom Penh foi ocupada pelos vietnamitas, porém o Khmer Vermelho seguiu lutando, e obteve reconhecimento internacional até 1982.




Segundo a constituição do Kampuchea Democrática de 1975, a cada 5 anos haveriam eleições para a assembléia representativa, a assembléia deveria ser composta por 250 membros, 100 membros para representar os trabalhadores rurais, 50 para representar os operários e outros trabalhadores, e 50 para representarem os soldados, as eleições deveriam acontecer a cada cinco anos, ou seja, se a constituição é de 1975, e foi aprovada em 1976, então, as eleições deveriam acontecer possivelmente em 1980 ou 1981, mas, o Khmer Vermelho caiu em 1979, lembrando que segundo a constituição, o voto era popular e secreto.

Dizem que quando os vietnamitas invadiram o Camboja, o país estava com a economia totalmente arrasada, mas, isso não é verdade, pois, em 1954, 1 dólar norte americano valia 35,00 riels (unidade monetária do Camboja), e em 1980, 1 dólar valia 4,00 riels, até hoje o dólar ainda vale 4 riels.
Em 1993, a monarquia foi restaurada no Camboja sob o comando de Norodom Sihanouk, o mesmo que havia apoiado o Khmer Vermelho nos anos 60 e 70.
O Khmer Vermelho continuou lutando.

Em 1998, Pol Pot morre de ataque cardíaco numa área rural do Camboja, porém ele já não liderava mais o Khmer Vermelho, um ano mais tarde, os últimos 4500 guerrilheiros do Khmer Vermelho se entregam, terminando assim, a guerrilha.
Em 2007, deu início ao julgamento dos ex-líderes do Khmer Vermelho organizado pelo governo do Camboja juntamente com a ONU, porém, nem o primeiro ministro Hun Sen, que fazia parte do Khmer Vermelho até 1979 quando se aliou aos invasores vietnamitas não está a em julgamento, e muito menos Norodom Sinhanouk que é da família real e apoiava o Khmer Vermelho. O veredicto para os acusados pelo tribunal possivelmente sairá nesse mês de julho.



BIBLIOGRAFIA:

www.wikipedia.com;

Guerra Fria, José Arbex Jr, 1994;

www.estadao.com.br;

Underdevelopment of Indochina: Indochina Chronicle 51-52, Sept-nov 1976, Khieu Samphan;

Constituição do Kampuchea Democrática de 1975.

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